Publicado em: 24-08-2018

Investigação nos EUA revela que “Papa da Vitamina D” recebe benefícios da indústria

By | 24/08/2018

 Endocrinologista da Universidade de Boston, Michael Holick é apontado como o maior responsável por criar o mercado de suplementos e testes de vitamina D, que movimenta US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) ao ano. Contudo, é improvável que muitos daqueles que se deixaram levar por Holick saibam que o setor o remunera generosamente.

Uma investigação conduzida pela Kaiser Health News a pedido do jornal The New York Times constatou que Holick usa sua posição influente na comunidade médica a fim de promover práticas que beneficiam financeiramente empresas que lhe pagaram centenas de milhares de dólares em honorários.

Holick, 72 anos, admitiu que trabalha desde 1979 como consultor para o laboratório Quest Diagnostics, que faz análises focadas em vitamina D. Disse ainda que as verbas que recebe do setor não influenciam em seu discurso sobre os benefícios da vitamina D para a saúde. “Não recebo mais dinheiro se eles venderem um bilhão de testes, em lugar de apenas um”, afirmou.

O fato é que suas recomendações propiciaram enormes benefícios financeiros para o setor de vitamina D. Desde 2011, a Sociedade de Endocrinologia dos EUA direcionou mais negócios, tanto para o Quest quanto para outros grandes laboratórios. Atualmente, testes de vitamina D ocupam o quinto posto entre os testes de laboratório mais frequentes.

Holick também tem laços firmes com o setor farmacêutico. Recebeu quase US$ 163 mil (aproximadamente R$ 652 mil) de companhias farmacêuticas, entre 2013 e 2017, por trabalhos de consultoria e outros serviços. Entre estas empresas estão a Sanofi-Aventis, que fabrica suplementos de vitamina D; a Shire, que produz remédios para distúrbios hormonais que são aplicados em companhia de vitamina D; a Amgen, produtora de um tratamento contra osteoporose; e a Roche Diagnostics e a Quidel, ambas fabricantes de testes de vitamina D. Holick admitiu também ter aceito verbas de pesquisa da UV Foundation, organização sem fins lucrativos ligada à Associação de Bronzeamento Artificial dos EUA – a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer classifica o bronzeamento artificial como carcinogênico desde 2009.

O entusiasmo pela vitamina D diminuiu um pouco entre os especialistas médicos, nos últimos anos, porque testes clínicos rigorosos não conseguiram confirmar os benefícios sugeridos em estudos preliminares. Alguns pesquisadores dizem que a vitamina D talvez jamais tenha sido tão milagrosa quanto parecia ser. Diversas operadoras de planos de saúde e especialistas em saúde começaram a ver como desnecessário e dispendioso o uso generalizado de testes de vitamina D.

Talvez o começo do fim do exagero (e do modismo) que tanto rendeu ao doutor Holick.

A matéria original do NYT foi traduzida e veiculada pelo site da Folha de S.Paulo, cuja versão pode ser lida aqui

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